sábado, 26 de março de 2011


- Beatriz, quero namorar contigo.
- Tu é muito criança - disse.
Quase não conseguia olhar para ela. Olhava o chão de pastilhas
coloridas no centro da praça. Formavam círculos, quadrados, estrelas
grandes e pequenas. Menores ainda, estreletes.
- se eu sou criança tu também é, porque só tens doze anos.
- Treze - ela corrigiu. E ergueu o rosto para o sol no meio do céu.
Espantado, percebeu que Beatriz usava batom. Batom clarinho,
mal se notava. Parecia tão divertida e distante que aquela coisa densa,
meio suja, dentro dele começou a se contorcer feito quisesse sair para
fora. Cobra armando o bote, vômito armado na garganta. Ainda tentava
controlá-la, quando insistiu:
- Eu gosto de ti, Beatriz. Eu gosto muito de ti. Eu gosto tanto de
ti.
- Pois eu não - ela abaixou os olhos, procurando os dele. Quando
encontrou, falou quase sorrindo, como quem dá uma coisa doce, não
como quem enfia uma faca afiada: - Gosto só como amigo.
- Como amigo, não me interessa - gemeu. (...)

Caio F. Abreu ( Os Dragões Não Conhecem o Paraiso )

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